Nicole Kidman agita Veneza com ‘Babygirl’: ‘Todos merecem o orgasmo’

Nicole Kidman agita Veneza com ‘Babygirl’: ‘Todos merecem o orgasmo’


Por isso que eu não quero punir nenhum de meus personagens, mas sim que eles apenas sejam eles mesmos, de forma que a gente realmente se conecte com eles e nos sintamos menos sozinhos

Realmente, para quem assiste a “Babygirl” com os olhos viciados dos thrillers que puniam as mulheres fatais, também sempre rasas e punidas no cinema noir, a trama pode decepcionar. Afinal, o quão condenável pode ser uma executiva que, insatisfeita com sua vida sexual com o marido, envolve-se com o estagiário? Ou uma assistente negra que usa, muito compreensivelmente, o que sabe para, finalmente, ter o reconhecimento que sempre mereceu na empresa, mas que nunca lhe foi dado pela chefe branca e privilegiada? Quais são os limites dos jogos de poder? Seja em uma empresa, em família ou entre quatro paredes?

E se fosse um homem no papel de Romy? Mas e se o estagiário, como afirma Samuel, soubesse muito bem o poder que tem em um jogo em que “dois adultos brincam” e que há consentimento e igualdade, pelo menos entre quatro paredes? Este espelhamento não é a chave para se ler “Babygirl” que, no fundo, também é um filme sobre conflito de gerações e de como os jovens de hoje resolveram e superaram diversas questões que, para eles, não renderiam nem mesmo um curta.

Em certa cena, uma das filhas de Romy, que é lésbica, está nadando e beijando na piscina de sua casa a vizinha. Quando a mãe, perturbada pela culpa que encara, diz que achava que a filha estava apaixonada pela namorada, a garota responde que está apaixonada, mas que estava só se divertindo, mutuamente, com a vizinha. Para a garota, monogamia nem chega a ser uma questão. E é com olhos generosos que ela também encara a crise da mãe. Com engenhosidade, Halina vai quebrando diversos clichés do melodrama de família, traição, thriller erótico e revelando um mundo contemporâneo muito mais complexo e interessante.

“Este também é um filme sobre o conflito de gerações e como as novas tratam estes temas de uma forma diferente e de como podemos aprender uns com os outros”, observou a diretora.

“Eu costumava vir a festivais de cinema como Veneza, Berlim ou Cannes, com filmes que, na verdade, hoje seriam impossíveis de estarem aqui”, disse Banderas. “Filmes que seriam altamente criticados e seriam lidos pelo viés do politicamente correto. Mas a gente não pode viver em um mundo em que o politicamente incorreto é estabelecido como forma de censura em relação a artistas e quando eu li o roteiro que Halina me deu, eu pensei: ‘Ah, alguém que pensa fora da caixa. Alguém que tem força, coragem, e a mente para por na tela coisas quem todos nós pensamos de certa forma'”, analisou o ator, que faz um marido querido, bom pai e, ao mesmo tempo, desatento à infelicidade de sua mulher.

A gente é prisioneiro de nossos instintos, nós somos animais. A natureza não é nada democrática. E agora estamos aqui, a gente não pediu para nascer, para ser humanos, plantas ou o que for. Somos presos ao que somos. E uma mulher falou disso em um filme que me orgulho de fazer. Antonio Banderas

Seguindo a tradição do cinema nórdico, que não teme mexer em vespeiros como desejo, questões de género, poder e sexo, seja qual o género de seus personagens, Halina pode não ser unanimidade em Veneza. Pode-se questionar as soluções de roteiro que Halina propõe, em algumas simplificações simbólicas que poderiam ser mais sutis, mas não se pode acusá-la de não ser corajosa ou provocadora.

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